quarta-feira, 24 de março de 2010

A zeladora da Igreja IV - Poseidon e Pipa da Praia


Sentada no banco Pipa pensava:

Claro, muito mais que claro, porque não...
sua mente iluminada teve suas próprias razões.

Levantou-se... ia ficar a tarde inteira sozinha, ali.
A igreja de portas fechadas e o padre só voltaria bem mais tarde.
Enxugou ainda os sinais de suas lágrimas
e um riso fantasticamente cruel veio em sua mente:

Já volto Jesus não saia daí, não vá a lugar algum,
ainda assim, me espere... eu volto já.

e mergulhou para as partes escondidas do templo.
Especialmente o quarto do Padre...
Lá ia encontrar recursos para o ritual de magia
que ela pretendia...
Abriu a porta do grande guarda roupa do Padre,
Tanta roupa que ele nem conhecia mais...
escolheu uma linda calça, bem antiga
mas de boa marca, novinha... do tempo em que o Padre ainda era magro.

Depois uma camisa azul,  de beleza única,
de mangas compridas, gola alta, Uma verdadeira obra de arte,
não pegou peças íntimas, afinal
apesar de séculos e milenios Jesus
jamais esteve desnudo.

Pegou um boné, lindo boné.
Procurou luvas e as encontrou... luvas lindas...
Por sorte a noite estaria fria.

Depois um óculos de tipo grau, bem grande
bem antigo, daqueles que nem se vê a cara.

Procurou tesoura  e encontrou
um pouquinho de tinta ia muito bem.
colocou tudo numa cesta e foi para o templo.

Jesus ainda estava morto e calado.
e indiferente, pra ele tanto faz
faz nada ou tudo... Jesus esperava talves o público
daquela noite.

Era uma imagem moderna, muito leve,
com movimentos perfeitos de uma pessoa.

Pipa removou  o véu, as flores, com carinho,
depois descruzou suas mãos e pés...
e o sentou dentro do caixão.

Jesus ficou sentado não disse nada e nem olhou para ela.

Ela abraçou Jesus queria apertá-lo junto ao coração:
Mas ele não era de carne, nem mesmo era espírito, ali.

Levantou-o nos braços, como era leve, parecia um bebê.
Tirou o do caixão, sentou-o no banco da Igreja, no primeiro.
Junto a cesta de objetos mágicos que subtraiu das gavetas do Padre.

Jesus ficou semi nu... sentado no banco, o olhar
meio perdido e sem palavras indicava seu espanto.

Ela pegou a tesoura e cortou seus cabelos,
embora fossem novos de aparencia, era muito velhos.
Fez um corte moderno, mas Jesus não precisava se preocupar,
usaria um boné, destes bonitos e atuais,
também furtado do Padre.
Colocou os cabelos de Jesus junto com o caixão,
as flores de plásticos e as naturais e o veu,
e tudo mais... arrastou para fora, no  pequeno jardim
que havia, muito lindo, por sinal.

Voltou e continuou a vestir Jesus:
Sua camisa azul,  colocou  meias e sapatos do padre, esportivos
a luva, os óculos,  escureceu bem suas faces com
as tintas que subtraiu da Igreja...
um cachecol para escondê-lo  bem e torná-lo
um visitante ilustre e vivo.

Sentado no banco Jesus agora era uma pessoa,
talves com os maiores problemas do mundo...
Pois eu a autora  creio  que ser um vivo,
é bastante complexo...
e ser um vivo divino é inimaginável...
é claro que nada sei sobre os mortos,
e muito menos sobre os que ressuscitam e ficam no céu.
absolutamente nada sobre os que voltam.

Ela, Pipa estava louca e tinha muito tempo para sua loucura,
tudo andou  muito rápido naquela transformação.
Já tinha arrastado o caixão  para o jardim,
Jesus estava pronto, sentado no banco da frente da igreja,
junto ao altar, desta vez ele era o fiel.

Pipa procurou fogo
e queimou tudo rapidamente no jardim.
o caixão e tudo mais... Poderia tacar fogo,
até mesmo na igreja aquele dia,
mas queimou só o caixão, o véo, as flores de plástico
as naturais, tudo ardeu em chamas...

Rapidamente ela procurou uma enxada de jardim
e encontrou, arrastou o que sobrou fez um
buraco e enterrou, arrancou umas roseiras,
uns pés de flores bonitas, como margaridas,
brancas e plantou sobre o enterro.

Ninguém perceberia nada se olhasse o jardim,
sempre se mudavam as plantas, sempre
vinham plantas novas e diferentes.

Tudo concluido com perfeição.
Nem rastro e nem resto podia ficar daquele gesto.
E manter a Igreja impecável era
seu dom eterno.

E voltou bem feliz sentou-se ao lado de Jesus
que continuava pensativo ou meditativo,
olhando agora para a Cruz.

Não se preocupe seu tempo de cruz já passou.
Nestes afazeres passou a tarde,
conversando e rindo com Jesus,
embora ele não fosse de muita conversa,
não deve ter aguentado ficar de boca
fechado com ela.

Mas Pipa ainda tinha um grande problema:
Como tirar aquele Jesus de dentro da igreja,
sem ser notada...!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

coração

  Quem bate... Uma voz  lá dentro responde: é o coração!