sábado, 7 de janeiro de 2012

A Estátua

Examinada por especialista
de refinada vista
Não deixa dúvida: É perfeita.

Tem sua parte de pedra,
tão antiga e tão lerda,
que seu passo ao vento é leve.

Sua indumentária
de puro algodoal campestre
tem um odor pensativo
e uma flor de atrativo...

A sua parte humana,
vem abrumada de pano,
do redemoinho da cabeça,
até a planta do pé!

Foi posta na praça,  junto de uma vidraça,
onde todos pudessem ver
e todos viram e puderam entender.

A arte do seu ventre,
a estória dos olhos, a luz do seu dia azul.
Tudo indiscutivelmente inteligível.
Nada estranho.
Absolutamente crível.

Ela se move. Se comove.
Ela ouve, discrimina...
o estorvo da sina.

E todos vão passando. O passa passa
dos passos... o toque dos pés, do alto,
no baixo faz soar algo:

Alguém se aproxima, um olhar agudo,
atravessa as retinas da estátua.
Um palmo do nariz... um palmo dos olhos,
um palmo... a voz soa insistente:

Quem é você?
A estátua se esquiva. sou a deriva.
De onde vem... à estátua não convem.
sou daqui, do além.

Um palmo do nariz:
Onde mora? La dentro ou la fora.
Cerceada a estátua se afasta gentilmente...
Mais para cima... aponta.

E tua religião?
Oh Santo Deus... era de uma igreja, depois de outra,
de outra e de outras... Aquela que fica lá mais para cima,
perto da curva, no meio do mato...
Não faz alarde as pegadas de Deus.

A estátua tinha certeza
que não seria reconhecida.
Juntou toda sua leveza
e correu uma grande descida.

Sempre um palmo do nariz
tem alguém que sempre diz:
"Ave te Cezar!"

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