domingo, 3 de janeiro de 2010

A estrada de pedra e Dona joanita... conto - Maria Melo




Quase sempre Joanita  caminha para o mar
(mar mexicano)... Seu Pablo anda também nesta mesma rotina,
é seu trabalho, sua sina.

Mas Joanita está cansada,
e sai para descansar enquanto pensa.
Pensa exatamente o que...

Pois conversa com criaturas inexistentes
ou de existência secreta e duvidosa, mas
nunca obrigou nenhuma destas criaturas
a ter com ela qualquer tipo de prosa!

Alguns morrem logo... viram santos,
outros resistem... causam dor e pranto.
duram muito são insanos,
mas todos são hermanos...

É revoltante comprovar que algumas criaturas
só existem para azarar as outras,
e removê-las do mundo é mais que heroísmo,
é um gesto de prazer indescritível.
(imaginário poder, cobiçado poder)
e nem as pedras grandes, montanhas, pedrinhas,
causam tanto aborrecimento aos caminhantes,
como estas criaturas desgovernadas,
pior que insectos praguejantes, sobre terra.

E dona Joanita não gosta de gastar nem uma gota de
seu sagrado pensamento com tais vermes.

Assim caminhou naquele dia, na direção  contrária, ao mar.
O que dona Joanita buscaria...

Seu Pablo a segue, persegue porque sabe
que assim como a sombra, dona Joanita tem raízes,
profundas sob a terra,
e que estas raizes concedem-lhe certos privilégios
e certos mistérios.

Envereda Dona Joanita por uma velha estrada de pedregulho.
dá muitas passadas... parece saber o que deseja encontrar,
Olha para os telhados, assunta a passarada,
na catedral das árvores em seus recitais intermináveis.

O sapato aperta muito... e ela lembra que quando nunca os possuia
nada sabia sobre o mundo injusto...
nem mesmo sobre as pessoas ruins...

Atravessou pedras, espinheiras, leito de rios,
com leveza, enfrentava o frio e chuva
sem perceber nenhum dano real ao seu pequeno corpo...

Depois arrumou os sapatos e muito deles, alguns,
lindos e apertados outros feios e alargados...
Mas o que fazer se os pés os deseja.

Tirou-os mas não os jogou... portava-os na mão.
Ainda estava longe de encontrar o que ela precisava naquele momento.
O sol quente do meio dia
parece que nunca vai acabar... nem uma nuvem... é bom lembrar:

Toda forma de nuvem
tem direito ao céu,
tanto as azuis,
brancas, coloridas, negras,
águadas, raiadas, trovejadas...
todas lhe são fiéis...
e todas são dele, amadas.

As nuvens que formam a noite e escondem os sonhos,
escondem também os atos humanos,
alguns além dos sorrisos e planos.
Mas o que importa isto.

Dona Joanita conhece gente, não porque viu gente
no filme, na telenovela, no teatro ou no calçadão...
por que gente brota a todo instante
em todo canto onde ela pisa onde ela vê
e faz crescer florestas de carnes indomáveis,
no imenso sertão das estrelas.

Está dona Joanita caminhando no lado esquerdo da estrada...
quando um ruido  começa surgir...atrás dela...
Vira-se e olha... uma nuvem de poeira surge...
Ouve de longe gritos, como fogos de artifícios...
e gargalhadas, estridente vozerio e risos.

Lá vem o cavaleiro, um cavalo negro, de grande cabeleira,
e um montador... O que parece estranho é que o
cavaleiro está de Pé sobre o cavalo,
que sobre as muitas pedras parece flutuar...
mas não flutua, cavalga... Ele o cavaleiro, dança, canta,

Dona Joanita fica ainda mais à esquerda
considerando que tanto o cavaleiro quanto o cavalo
parecem embriagados... De quê... ela não sabe.

Se fosse cachaça já estariam, ambos quebrados.

Na mão do cavaleiro uma estranha mala:
era quadrada e muito antiga, muito grande,
quem sabe pesada... Mas vinha a todo vento,
ocupando quase toda a estrada....

Ela ficou muito temerosa, aquela dança doida,
de cavalo, cavaleiro e mala, ocupava todo
o palco... procurou em vão, encontrar
algum apoio rápido para si mesma...

Enquanto isto a fantástica visão se aproximava
muitos gritos, como se houvesse uma multidão por ali,
só havia árvores e pássaros...

Foi sua salvação do medo, é claro,
pois todo mundo sabe o que é um homem, o que é um cavalo
e o que é uma mala...

e cavalgar pode ser de repente uma grande aventura,
assustadora, ou mesmo paranormal... assim é para os jokeis...
uma cross cavalgada...
homens e cavalos sempre formaram pares, pela
humanidade afora.

E ela entendeu que nem um  pássaro ficou espantado
com a bizarra cena... nem as árvores tombaram,
nem mesmo os frutos delas...


Quando o cavaleiro passou por ela a ameaçou...
investiu o cavalo contra ela... ela recuou um pouco
mais para a esquerda e ele riu, de muito gosto,  gargalhou e
ela viu  seus olhos, seu rosto. Era um estranho,
que com grande pericia dançava uma valsa
louca ou um tango sobre o lombo do cavalo.

Então ela lembrou de Aplaudir... grandes homens
venceram grandes batalhas, assim, desta forma
cavalgando... ! Continuava olhando o espetáculo
do cavaleiro quando a mala voou das mãos
dele e ficou oculta no meio da poeira...

o cavalo disparou estrada a baixo...
na próxima curva, um rio de água, pra matar a sede,
enquanto ela olhava o cavalo e o cavaleiro sumirem...
a poeira ia baixando e mala
estava lá no chão...

Seu Pablo não entendeu nada...
mas continuou espionando...

Joanita catou a mala... se encostou num canto
e novamente ficou pensando.

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A semente

 vou caminhando  para meu sonho. Vivo lá  tudo que me proponho.  súbito, mais que de repente, chego num dia de sol, que se abre  inteirament...