domingo, 28 de março de 2010

Marias... meninas!



Ela tinha no máximo 12
mas se eu pudesse exagerar diria, até quinze,
para amenizar.

Uma bota plataforma de madeira pesada,
com enorme salto
que ela arrastava com todo seu corpinho,
minúsculo e magrinho,
pela calçada esburacada.
Metade das coxas fininhas encobertas, pelas botas
que claramente nem suas eram
eram de  pés maiores.

A sainha justa e cinza, apertadinha,
cobria apenas sua nádiga, precariamente,
de  menina.
A blusinha de tirinha e decotada, tanto
na frente quanto atras era horrivel.

Mas o xale era chique e raro,
bordado e espalhado sobre as costas nuas
Denunciava: Alguém a vestia assim.

Os cabelos especialmente desarranjado
escondia sua face infantil,
os olhos pintados, de azul marronzado,

disfarçava as marcas de agressão,
espancamento. Os olhos estavam úmidos,
as faces tinham uma leva marca de lágrimas.

que ela já esqueceu onde as derramara.

Eu distraidamente atenta acompanhava a pequena figura
que se movia pela calçada
uma sombra escura a seguia...
Ao se aproximar  mais de mim,
teve que me olhar... eu esperava que sim,

Me perguntou naquela fração de segundo:
O que faço com minha vida,
por este mundo...!

Fiquei caladol, também sou cúmplice
da condição de mulher.

Logo em seguida me deu as costas,
alguns homens dificeis de encarar a observavam:
Estou certa que para nenhum deles ela era sexi!

Em uma das mãos enroladinha, uma nota de 10 reais...
ela levantou a sainha  cinza, e apareceu
sua calcinha vermelha de renda,
feito aquelas de criancinhas...

com todo descuido consigo mesma
enfiou o dinheiro na calcinha...
depois arrumou a saia o melhor que
pode, o  xale puxou e puxou... melhorou...

Saiu arrastando a pesada bota pela calçada.
e logo logo desapareceu.
Eu também desapareci...
com meu coração na mão,

sem coragem para questionar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A semente

 vou caminhando  para meu sonho. Vivo lá  tudo que me proponho.  súbito, mais que de repente, chego num dia de sol, que se abre  inteirament...