quarta-feira, 3 de junho de 2009

Depois conto - o dia seguinte - Maria Melo - Brasil

Ela tava lá encostada no portão da casa, dormindo
feito criança. Alma abandonada nas mãos da vida,
fosse o que fosse, aqueles homens salvadores,
a levariam.
Ei moça, acorda, não pode dormir na rua.
Acorda... moça, chaqualharam-na
muitas vezes, nem os olhos abriu,
nem resmungou, parecia mesmo uma
menininha negra...dormindo
confortavelmente no colo de alguém!

Eles a levantaram a ampararam e a levaram.
Na casa de acolhimento,
a colocaram no colchão
e cobertdores e travesseiro.
Talves houvesse por lá alguns sonhos bons também.
para atender aqueles que necessitam
da assistência social e amparo
para seus passos mais dificeis.

Bonita dormindo, bonita sonhando,
resmungando, bonita assim,
inteiramente negra,
com sua boca vermelha de negra,
olhos e nariz e cabelos
e pernas e mãos negras,
bonito e lindo corpo negro,
bonita e linda mulher negra.

Bonita mulher, bonita menina,
com sua alma tão igual,
e seus sonhos, também.
com seu coração batendo, ressonando.
Ia a vida levando, ali mesmo,
naquele lugar, onde ficavam os abandonados,
ou aqueles antes de tudo,
que abandonam tudo!

No dia seguinte acordou cedo,
antes mesmo dos assistentes sociais,
espichou-se e pensou:
que lugar é este e como aqui estou?

Eles entraram na sala.
Bom dia, dormiu bem? Refletiu?
Acordou melhor? Quer um café,
na mesa, entre nós?

Sem nenhuma surpresa,
ela foi se levantando, remexendo as roupas,
se arrumando,
tentando se ver em algum espelho,
sua pele fresca e seus cabelos,
eram belos de qualquer jeito.

Sorriu sem constrangimento,
como se sorriem os jovens,

Vamos tomar um café, disse o assistente,
depois vamos conversar, você deve ter
muita estória para contar.

Foram para outra sala, calados,
ninguém tinha pressa de começar.
Tomaram café como se fosse familia,
todos riam, todos brincavam
alguns já moravam ali,
outras nunca mais voltariam.
Mas quase ninguém tinha
uma estória que quisesse contar.

Ela era diferente,
tinha que contar estória, e muita estória,
mesmo que ninguém a quisesse ouvir,

Sabia, agora de manhã, um monte
de coisas que ontem não sabia.

Seus pais a rejeitaram. Seus pais eram brancos
de olhos azuis, seus pais eram ricos,
seus país não a reconheceram.

Seu namorado era negro,
tão negro e tão lindo quanto ela,
Mas provavelmente ele viajou para longe.
e nem endereço lhe deixou.
Isto ela não se lembrava.

Nasceu e cresceu na mesma rua,
todos a conhecia...
Ela sabia que não era negra,
que nunca fora negra,
que não era louca, que não era adotiva,
que não estava drogada,
nem bêbada,
só estava cansada e com muito sono!
Sabia isto como qualquer pe

Tudo estava muito simples,
a rua, a casa, os pais, os visinhos,
o namorado, a casa de dança,
tudo era muito conhecido dela.

Só uma coisa não cabia em lugar nenhum:
Aquela sua cor negra,
toda sua indumentaria carnal,
havia se transformado
de mulher branca
em mulher negra.

É claro... seus pais não a reconheceria, mesmo.


Depois do café pediu licença,
foi ao banheiro, olhar o espelho,
mais atentamente,
espelho sem truque, sem mágica
que lhe mostrasse a verdade,
pelo menos uma verdade,
entre tantas escondidas nele!

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