terça-feira, 28 de agosto de 2012

O coração

Ela tinha o sorriso de uma menininha...
e era uma mãe.
No colo a criança
toda mordida de pernilongo...
ela estava aborrecida com os insetos.

Disse-me que estava com fome.
Disse-me também que esquecera de levar dinheiro para o lanche.
Tirou o peito para fora
e o colocou na boca do filho...

A criança estava insuportavel
por causa das muitas mordidas de inseto.
Ofereci-me para lhe comprar um lanche...
Ela recusou eu insisti...
Ela aceitou... mas ao tentar comprar
descobri que o lanche acabou.

Trouxe-lhe um refri.
Ela disse isto engana a fome.

Disse-me ela "sabe que quando passei com um monte
de sacolas e meu bebê na chuvinha fina e gelada...
Outra mulher com sua criança
disse - que blusa linda - deixa o bebê quentinho.

Olhei... de fato meu bebê tem mais que o dobro do peso
do bebê dela e são da mesma idade. Veja como meu bebê
é esperto! apesar de ser tão pequenino para a idade dele.

E a blusa deixa ele bem quentinho
mas confesso que o ver o outro bebê sem nem um blusinha,
numa dia bem frio como este, como esta semana,
e como todos os outros frios de todos os outros dias
e outros meses e outros anos e muitas outras crianças...
fiquei com vontade de arrancar a blusinha do meu filho
e dar para aquela outra criança.

Só não o fiz... porque ele só tem esta.

Você entende, penso que não. Se não enteder
enquanto eu falo... então vai lá ver...
que dó que dá!  é meu povo, minha gente,
quase  todos nós somos parentes.

Eu sai... ajudo pai, mãe, irmã, sobrinho
graças a Deus, tenho um  trabalho e vivo
feliz... volto da ilha depois de longos meses
sem visitar. Ainda está escuro, embora
já tenha postes lá...

Ai meu Deus que pena que dá,
que estas crianças, são filhas do meu tão rico Paraná.
És bem inocente,
quase peco com o meu saber...
tua boca e riso...
é força pro meu viver...

Fico muda. Medo do vento...
que curva o pé do tempo...
que surge lá fora,além de dentro.

peco o costume,
de calar feito vagalume
diante do brilho deste  dia.

que dia chuvoso e úmido,
marejado até o fundo
do mar dos olhos
e do além dos olhos.


Peco queria dizer não digo,
vim de tão longe,
do deserto amigo,
só para te trazer comigo.

trazer o olhar escondido...
que dos olhos se faz fugido...
enquanto o coração se faz seguido...
sempre de maior silencio.

levo a camisa,
disfarçado o coração vai dentro.






segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Bem comum bem raro

O amor tem um preço
sempre muito caro,
mas é um bem comum,
de modo que todos podem ter...
desde que queiram pagá-lo.

e para quem pensa que o amor  é caro...
e pretende rejeitá-lo...
a solidão tem outro preço,
sempre também muito caro,
mas de modo que todos
que queiram também podem
compra-lo.

sábado, 11 de agosto de 2012

O artista

Palco bastidores platéia...
calados e sisudos
o artista os observa.

ansiosos esperam
que seus personagens apareçam
que cresçam diante das luzes...

que se formem
real, de palavras sonoras
que revelem
o que há dentro da alma...

daqueles que o olham.

De qual deles hoje contarei a história.
No ato, ao vivo, sem prudencia,
o artista aponta o dedo... Você...


você mesmo de camisa xadrez
chegou sua vez...
... É bom lembrar que este teatro é assim mesmo
vai lá quem quer correr o risco
de ser apontado pelo dedo
do artista mais atrevido desta vida.

O teatro pleno de pessoas em silêncio
que pagaram um preço mais caro que puderam...

todos volvem os olhos...
Quem será este privilegiado
que verá no palco sua própria história?

-Levante-se por favor, se apresente:
Diga ao menos seu nome,
a história deixa comigo...

Não pense que contarei seu passado.
Eu não sou louco, sou visionário...
contarei seu futuro até as contas do seu rosário...

Assim o  homem fica em pé, diz o nome e
caminha até uma cadeira um pouco
de frente para a plateia...

e a peça começa...
por uma hora... apenas uma hora o artista
 desenvolve a história,

todos aplaudem de pé
todos gritam... todos querem
que lhes apresente um futuro.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Oh lua


Oh lua faroleia faroleia
a cabeleira do sertão...
enquanto garimpo garimpo
as riquezas do meu chão.

o chão de terra batida
que nunca teve sim ou não
da terra batida
que bate dentro do coração.

 o chão da terra vermelha
como o sangue do coração,
que branqueia, branqueia
no trigo que faz o pão...

Oh lua faroleia a imensidão!
enquanto garimpo
as riquezas deste chão!


 No abraço das grandes águas
o paranaense trabalha o chão!
se chuva lhe cae dos olhos,
lhe nasce do coração,

pra regar a terra vermelha,
centelha do meu sertão,
Oh lua faroleia, faroleia
enquanto garimpo o chão!

com este orvalho de prata
que vem da imensidão
cobre todas as matas
que resta em meu  sertão!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A cidade

... É bela,
assim como a fera.
Do seio dela
o mel e o fel
da mesma primavera...

espaço sagrado.
Cemitério da natureza,
onde o bicho é ralado
com selvagem sutileza...

nenhuma síntese matemática,
de dois e dois são apenas quatro.
o quadro da má temática...
rabiscado sem sabedoria de Einstein.

racionar e racionalizar
o sagrado espaço,
onde pisa o homem, seu terraço,
a vida ferida em todo
se dá ao fracasso.

e nem culpa, nem culpado,
por qualquer um se passa...
racionalizar o sagrado espaço...

o milagre da pedra
que se multiplica pelas mãos humanas...
subir as escadas do ar,
ascender outros planos.

racionar o sagrado espaço humano...
porque nele agora há
outras vidas em desengano.

Nunca ninguém pensou sobre isto:
A terra é tão grande, e este espaço infinito,
parece caber toda natureza humana
e ainda sobrar, sobrar e sobrar...

para se vender em longos, eternos anos.

porque espalhar tanta feiura sobre o chão,
deixa que brotem as árvores,
floresçam frutos e sementes,
flores em cachos, frutos em pencas...

dá para a horta, o pomar,
os pássaros, borboletas e abelhas,
os mesmo chão, novamente compartilhar.

Porque se a cidade continua  alastrar-se
a natureza e toda sua constituição
começa a encolher...  encolher...
e só tem o homem para disso se responsabilizar.

O rio e sua caravena
que vive a nadar...
é o primeiro a nada se tornar...

A cidade é o carrasco do rio...
fica sujo deserto e frio
por fim morre cheio de lixo...
de vida, vazio.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O padre e o Leão

Quando era inocente
me confessava com o padre...
"dez ave maria e que Deus
te perdoe  e te  salve..."

Não tinha nenhum pecado real...
mas de todo modo,
valia palavra, pensamento e obra
e sempre pensei muito...

até se devia ou não crescer...
amadurecer e envelhecer..
sonhar que se deixou de ser criança...
que se pode que se deve
dirigir a própria vida... com bonança.

Hoje já não sou tão inocente...
me confessei com o Leão...
E era um leão tão lindo...
sorte que não era faminto.

País de sorte este,
de povo abençoado.
Enquanto me confessava pensava
qual chance que se tem  de  se dar bem por aqui...

digamos que eu " gastei minha vida quase toda"
em defesa própria...
hoje o leão me chamei
vi que estava desiludido...

tenho um caminhão cheio de papeis brancos
comuns que provam que sou um brasileiro falido.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Desabafo

Fui numa missa.
O padre não estava de bom humor
e fez um desabafo em público,
em pleno altar...
estava magoado, claro seu desengano.

..."São tantas as críticas contra a igreja...
Veja... saibam vocês
que a escola foi inventada pela igreja
e foram eles os frades os primeiros professores...
E eles são ignorantes... deixa pra lá. ..

Saibam vocês e - eu bem sei -
que a igreja sempre foi a maior preservadora
da arte e da cultura de todos os povos,
porque desde seus grandes templos até
as pequenas capelas todas
guardam cultura e arte do  povo"...
assim como qualquere religião de qualquer parte do mundo...
sempre preserva a arte e a cultura
como seu melhor patrimônio... não apenas
preserva, se cria, se sustenta se embasa
na arte e na cultura dos povos antepassados.

a voz emudeceu de repente,
voltou a missa, voltou para os problemas
do céu.... afinal!

Carpinejar

Todo os poetas guardando
um montão de abraços e beijos
para o Fabrício Carpinejar...

e eu outra vez fora da cidade,
quando ele Chegar...

o céu

Alguma coisa sempre foge
da alma do anjo quando ele toca o seu clarim.
Assim como de mim.

O céu. A morada dos Deuses, de Deus,
a esperança de uma vida que não se acabe
pelas torturas de ser mal vivida,
de ser mal amada. De ser mal existida
e também de ser mal governada.

A fé no perfeito, na bondade, na justiça


Enquanto se espera o céu
para se conquistar isto...
a terra com suas garras cheias de calo,
de agulhas, tesouras e fios do algodoal
não se cansa de tecer a vida da carne...
a vida sagrada,
a dolorida vida do animal.

O céu com sua beleza azul,
com nuvens brancas, cinzas, negras,
com estrelas douradas,  brancas, amarelas, vermelhas.
de todas elas
apenas uma o dia revela...

as outras ocultam
o vulto da noite....

alguma coisa foge da alma do anjo nestas horas,
às vezes a terra chora, dentre os filhos
o homem é o maior mistério...
porque é tecido das rochas, ao mesmo tempo do etereo...

Diz a terra:
-Se pudesse te abraçar melhor...
Te abraço. Posso. Te refaço,
do meu peito, do meu braço.

Tua cor quente e vermelha se assemelha ao sol.

Todos os templos do mundo...
as fotos... só conheço alguns.. aqui por perto...
Todos tem nuvens brancas no azul sincero do céu,
todos tem criaturas aladas...
Oh desejo... porque o homem bom e elevado
tem que ter asas...

Diz a terra... afundei-me em prantos
para te construir uma casa....
porque tua bondade tem que esperar  asas?

Acaso
não vês que eu a terra sou nascida e criada
em pleno céu?

O Grilo

Confesso:
Já matei um.
Acidentalmente.

O coloquei a ponta pés para fora da casa.
Ele voltava aos pulos, zombava.
Tinindo as asas....

O grilo se recusava a sair...
e eu a dormir
o fiz subir tantas vezes a escada
ele se fez descer...

até que quebrou suas asas...
foi o fim do grilo
nada pude fazer.

e depois de não sei quanto tempo
o tal do grilo voltou a incomodar..
não sei como me livrar...
não sei onde ele está...!

tomara que durma cedo.

You are welcome



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