penso que você deve saber
se era assim mesmo...
e se concordas...
Somente muito tempo depois se desceu ao chão,
se criou coragem para enfrentar a fera do coração.
Morávamos lá.
Há muito tempo passado.
Eu, meus irmãos, meus pais e meus muitos antepassados
meus parentes distantes,
e nossos descendentes aconchegados.
Se era o céu ou não, nem interessa
mas minha mãe nunca jamais descia na floresta,
havia rumores de feras, de eras, de cinzas
de ira não divina,
porque o divino não existia ainda...
mas de fome assassina
que nunca se finda...
que devorava sempre qualquer matéria...
até aquela que não surgiu ainda.
havia uma linguagem precoce,
entre o tempo presente e o tempo passado...
que ia e vinha...aos bocados...
a noite engolia sempre os desavisados...
depois vinha a bicharada...
a fome de uns outros matava.
Meu pai, não foi o primeiro a tecer o casulo
da lagarta mãe, já estava lá quando ele nasceu,
todo entranhado na árvore de fruto
frutos que eles e ele sempre comeu.
Uma rede de ramos e galhos
de folha macia e gargalho
guardava as crianças que nasciam
até que pudessem caminhar pelos ares...
brincar e sorrir, crescer e viver
sem embaraço
pela floresta do laço...
mas nada nada era muito facil,
quem descia quase sempre caia no laço...
e sumia pelos muitos mistérios
dos próprios passos.
mas nós as meninas jamais desciamos ao chão...
caminhavamos livremente pelos galhos
imitando nossas mães...
esperavamos pelo tempo
de fazer outros, outras, iguais ao nosso pai,
iguais a nossa mãe...a nós iguais.
e repetir indefinidamente a vida
sem questionar seus lumiares
pelos misteriosos e escuros vales.
Eles os homens nem sempre caçavam,
traziam para os filhos, na copa das árvores,
sacos de frutos, doces e fortes,
que os separavam da precoce morte
e as crianças encasuladas, cresciam
jamais criavam asas,
mas voavam de galho em galho,
pelas copas das grandes árvores.
e aprendiam a sobreviver
aos poucos com loucos e perigosos animais.
palavra na boca, nada,
pensavam não se sabe lá o quê,
viviam até que sumiam
mas as mulheres para a floresta
jamais jamais desciam.
O destino dos homens desconheciam...
se viviam, se morriam,
quando não voltavam,
elas não sabiam. Não choravam...
Viraram bicho... bicho viravam!
Os meninos escapavam dos casulos,
enfrentavam os bichos a pedrada,
e assim uma guerra se levou
até que se disse a primeira palavra.
E foi a Vaca, esta lasca grande de matéria sagrada...
que murmurou o primeiro mandamento
que foi a primeira palavra....
na verdade seu filho bezerro,
de ouro, prata, urano e carbono
que além de ensinar a pedir
também ensinou a mamar...
o filhote do homem
somente quando se fez sol e amanhecer mais claro,
se aprendeu com os bichos,
a se infurnar nas tocas, cavernas
e muralhas... se guardar do medo,
da fome dos outros e suas garras....
e nas belas cavernas se consagraram
com os bichos se confraternizaram
e confabularam ...
aprenderam finalmente a falar
onomatopeia da cigarra de cordas
Viraram-se os homens em Deuses...
criaram céus, terras, universos e sois...
livros secretos,
escritos em rochas...
sementes de tudo em caixinhas postas...
semearam casas, templos, panelas e sinos,
em seis dias fizeram um grande shopping.
as ovelhas deram o pelo,
os camelhos os joelhos....os cavalos
deram o lombo ao relho
e a vida finalmente floresceu!!!!
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