segunda-feira, 27 de abril de 2009

O retrato - conto - Maria Melo - Paraná - Brasil

Era um dia chato.
Um dia barato.
um dia "lato"!

Não havia gato no telhado.
Nem na lagoa havia pato!
que peito ingrato!

Então vai-se ao museu
onde as velhas coisas
se renovam com arte
onde cada qual encontra
seu quebra cabeça, sua parte.

Vai-se ao museu onde paris vem a nós.
ou a alma de seu artistas
no amarelo linho,
das folhas dos giras sóis!

Para-se diante da obra,
tão clara, tão cara, que cara,
de homem nobre!

A simetria das orelhas,
que Van Gogh não suportou,
cortou-a, sem parelhas,
lindas as pintou!

E os olhos, no azul da camisa,
uma expressão tão quente,
da cor céu, estampado na face
que gruda na gente!

De fato, admirava,
tanto as mãos do artista,
o tempo que ele guardava,
na obra que ali estava.

Mas um dia qualquer,
acontece algo inacreditável...

Esta obra tão antiga,
não podia ser copiada!
Nenhuma mão daquele tempo,
poderia ver hoje,
o que em outra face
tivesse estampado!

Ele parou também diante do quadro:
falou... que belo e misterioso este trabalho!
quanto tempo terá demorado
para compor este talho!

E o quanto de história, no mundo,
terá este verso para contar?


Ela olhou para o homem,
reparou na beleza da camisa dele,
igualzinha a do quadro...
Tentou olhar para os olhos dele,
mas a memória tão fulgás não deixou.

Só olhou para o azul da camisa,
ondas de nuvens vistas da terra,
num dia de muita glória.

Ficaram calados ainda mais um instante,
depois ele disse, vamos ver os outros,
também devem ser interessantes.

três passos e ela se lembrou e sem
nenhum embaraço comentou:
Ah, que falta de atenção a minha,
fiz confusão... é seu auto retrato!

Vamos voltar quero rever os detalhes,
Ele não discutir, voltaram... Ela conclui:
Devo ter confundido tudo,
Acreditei que esta obra fosse muito antiga.
e com o artista aqui do meu lado!
Mas algo cheirava intriga!

Revendo todos os detalhes possíveis,
Que lindo, todos os traços,
que beleza de trabalho,
vendo assim, ao vivo, tua pele e teu olhar,
dá vontade de te roubar!

Mas está errado a tua ficha,
não estás morto, nem neste século e nem em outros,
estás muito bem e vivo,
e tua antiga obra é realmente incrível.

"Não é meu o trabalho, nem meu auto retrato
Sou apenas um admirador das artes,
tão surpreso estou,
como tão surpresa estás
E é a primeira vez que me vejo,
assim, neste velho espelho francês!"

Descobri-me nesta obra arte,
de muitos séculos passados,
e até o ofício de minhas mãos,
estão ali retratados,

Veja aquela caneta velha,
por ele mesmo inventada,
sobre a mesa, na folha escrita,
é meu o poema, a primeira
frase e a última bem dita!

Sábado com você
Domingo com você
Segunda com a saudade de você!

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