domingo, 28 de abril de 2013

Ela disse...

A mulher disse ao mendigo
que lhe pediu ajuda:

"Por que  você não vai até a igreja
(bem na frente deles, naquele momento estava tendo uma reza pública) e pede ajuda de Deus...
Tenho certeza que ele não abandona ninguém..."

O mendigo pensou um instante e esboçou
um sorriso indescritível no rosto:

" eu não posso entrar na igreja,
me informaram que Deus não gosta do que faço.

- Tá vendo só, disse a mulher, quase sem fôlego
de indignação  é isto mesmo  Deus não
gosta  de ver alguém assim..."

O mendigo estava de costa para a igreja,
virou-se de frente para a mesma e  com gesto dos olhos
apontou para as
 escadas da igreja , estavam cheias de outros mendigos
deitados, em colchões velhos e sujos, sentados com garrafas
de pinga, com tocos de cigarro na mão...
homens, mulheres, velhos, doentes, bêbados...drogados
e quem sabe algum agente secreto disfarçado...
todos esperavam por ali
para ver se conseguiam falar com Deus,
quando ele passasse...

Tudo está cheio... disse ele, olha só as escadas
da igreja! Eles pelo menos estão esperando por Deus...

quando a mim, estou perseguindo o inimigo...
que inimigo? Perguntou a mulher...

O que fez da minha vida este trapo,
respondeu ele.
- É você mesmo que se faz assim,
disse ela.

Ele balançou a cabeça e disse,
não quer dar 1 real, não dê,
mas sermão também não quero"

E foi passando a fila.









Trabalhador...

Mãos braços pernas pés
olhos pensamentos e coração
dedicados à nação.

Sempre maltratados...
de um modo ou de outro massacrados.

Renúncia sem tamanho,
na mira do poder
sem poder se libertar,
Trabalhador...

você tem a força...da vida
ao seu dispor...

você já ouviu todos os nãos do mundo
um dia vai ter que dizer esta palavrinha mágica...

Não à ambição desenfreada
da  maldade e da
 ganância...

" Não, eu não estou vendendo a minha vida...
posso  lhe servir bem, por bem servido também"!



sábado, 27 de abril de 2013

Bocage

Fui buscar Bocage...

"Aquela, que na esfera luminosa
Precedendo a manhã, qual astro brilha,
Mãe dos Amores, das espumas Filha,
que o mar na concha azul passeia airosa"...

E me vi  sentada numa cadeira
 de frente a ele...
Seus olhos além brilho,
 da poesia amado filho...

Mas que Tristeza é essa?
a poesia realmente não interessa...
o que talvez interessa é:
Que cara é essa?

Mais que mudo... saudade é tudo.
é que já não és tão belo?
nem coração é castelo!

Trabalho rumbudo, carrancudo,
e poeta nem quer ser...
se tens calos nas mãos...
que dirá  teu viver...

 Estes olhos intrigantes,
pairam sobre  fragil curtina...
aceita um café?
lá da minha cozinha?




A era

Era o petróleo.
Era o papel.
Era a vida de alguém.

Era o trabalho,
era o estudo,
Era a vida, era tudo
além da luta sobretudo.

Era o cargo,
a carga,
O largo  tempo
Era a vida  de alguém  em andamento.

Era a dívida,
o seguro,
a luz o escuro,
a conta do rosário...
o cobrador trapaceiro
e o pagador otário!

Era a missa,
O santo  oratório.

Era tudo...
céu inferno purgatório...

nem precisava crematório.




Sumiço...

Eu com Isso?
Todo mundo traz consigo
esta dose de feitiço...
sumisso... eu com isso?

também sumo
largo o serviço.
corro  o rio
no seu rumo.

Destino eu com isso?
o da chuva, da uva,
da curva, da luva,
eu com isso?

Se volto... se volta,
se voltar, se perder na volta,
se tem porta,
se exporta, se importa,
eu com isso?
Sumisso,
sem compromisso!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

sigilo

Estou lhe mostrando bem sigilosamente
esta folha prismática.
É legal que tem peixinhos nela.

Hoje a lua...

grande branca pendulada debruça sobre os prédios
parou a ronda... ?
É só um instante de assédio.

O sino estático de 100 anos de idade
sonda... mete pedras no bronze!
a lua pisca faisca e rabisca as sombras.

Os homens olham a lua:
Meu Deus que grande! Que horas são?
E  velozmente num estribilho
juntando os restos do dia,
do que deu certo, do que daria
vão já já se transmutar em sonhos
em loucas fantasias.

vão fechando portas e janelas
a bolsa de sonhos, aquela...
vão fechando as pálpebras
e tudo mais que existe nelas.

Os prédios
debruçam uns sobre os outros
cochicham, cochilam e por fim roncam...
e se entregam ao devaneio
da cidade eterea.

A cidade viaja no céu macerado.
todos juntos trarão o amanha, de volta
assim vivem os homens em seus afazeres
ocupados com a arte desviver.




Ávida vida vívida.

À luta
sua monga
se a vida é curta
a guerra é longa.


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Ei olha só...

Ela é uma veia fasquerosa.
o namorado dela é um veio bobo.
o irmão dela é um rã zinza.
o outro depois dele é um veio besta.
a irmã dela é uma veia discarada,
a outra depois dela é uma veia estressada.
o cunhado é um veio perdido.
a cunhada uma veia esquecida.

a outra uma veia metida.
...

vão dá todos no asilo...
jogando cartas e comendo pipoca de quilos...

e nada nada mesmo é melhor
do que ficar velho em familia.

Você pode ficar...

Gosto do cheiro, do sabor
do sorriso e do bom humor...

você pode ficar,



I miss you

A lua branca sobe a serra
  paira sobre os predios
espalha no céu e na pele
 uma nuvem de neve...

Será inverno o que sinto?
as folhas velhas acenam
é a última  cena...pressinto!

o tempo rastela tudo...

Pode ser que sim
mas por perto de mim
as sementes continuam germinando!!!!




sábado, 20 de abril de 2013

sonho

Que venha mais um dia
como este filho da minha pança
gordo saudavel e rico...
feliz como criança.

Faço sonho na minha banca
os melhores que fiz na vida
os sonhos da alavanca
da subida ou da descida.

se sobe ou se desçe
 com  jeito elegante:
tanto faz  que se  merece
 viver na  roda gigante.    

E você este  gato de rio
de janeiro a janeiro,
leva o peixe que crio...
e deixa meu lago vazio.

mesmo assim só faço sonho. 



   
 

Farinha

Sou do tempo que não existia luz.
Elétrica!!!! bem entendido.
a luz do dia era ampla, plena, aquecida e bonita.
a escuridão era mansa e a única coisa que se ouvia
era o canto da sapaiada...até que se dormia.

Se de noite  "Sol" não tinha
tinha estrela feito grão de farinha!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Por estas e por...outras

Por estas e  outras 
é que digo o que digo
da fragilidade do umbigo
do calcanhar de Aquiles.

fragil como se sabe como se vê
um só palito
põe toda a cerca a perder.

Mesmo sendo um só um palito a contar
deve ter o lugar dele ser dele  estar...

e especialmente ficar
por bastante tempo... se alegrar
com o grande advento da vida....

da qual ele faz parte indistintamente.

Sinal dos tempos

Experiente
não  suportou os encargos da sua relação com Deus
abandonou a missão.

Humilde Dá o exemplo...
aquele que carrega fardos menores ou até invisíveis
ou suporta mandamentos...impossíveis

que tem relação temporária ou perecível:
que não aguenta
não está obrigado a nada...

Saiba que a liberdade sempre tem um custo
mas por principio todos podem pagar.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um olhar de Tolstói...

Ele olhou demoradamente para sua fazenda,
para as ovelhas e para outras fazendas, para seus empregados,
para outros empregados: - Admirou-se de tanta pobreza,
envergou-se da sua riqueza.
 
Este é o meio ambiente, não apenas uma fazenda ou 100 fazendas.
Não é de ninguém...legitihumanamente falando...
De que forma brutal alguns homens tomam posse dele?
E Tolstoi se torna um índio russo
compreende os bens como riqueza de todos...
e a riqueza  apenas de alguns, como uma riqueza criminosa.

Tostoi enlouquece apesar de toda genealidade,
não há em si um grau de inteligência maior do que a fraternidade...
enlouquece de amor pela vida,
porque Tolstoi também tinha
além de toda riqueza e genealidade,  uma banda enorme de filhos,
despejou sobre todas as pessoas do  mundo um alhar assim,
tão próximo, tão íntimo do amor divino.  

Quer doar os bens e nesta hora descobre,
que apesar de sua riqueza também é pobre,
não é dono de nada, como lhe parecia antes, quando se pensava nobre... 

 sob o olhar de Tolstoi, 
 sobre o meio ambiente.
O capitalismo, tal como se tornou...ou qualquer outra forma de governo da qual somos cientes,  e  que tem o testemunho da história...vem sacrificar  a vida, sem uma verdadeira gloria....

E há poucos homens na história da humanidade,
que realmente tão sido tão grande, tão nobre...
e sua nobreza ficou claro, não estava nos bens
materiais que Tolstoi tão bem donimara. 
  



 
  

  
   

Tu acreditas em E.T.?

Qual tipo de E.T.?
Conheço dois tipos apenas
mas qual tu te referes?

Um E.T. feito fora da terra, e fora do nosso sistema solar
isto é sem líquido, sem pó, sem sol e sem
qualquer um dos elementos da tabela períodica,
inclusive os manipulados...?

Este E.T. não tem orelha de borracha,
nem nariz de sabugo de milho.
nem dedo  paranormal.
ou buraco de olho com bolinha de vidro.

O outro, o E.Tmano
criado aí pelos confins do universo,
em planeta verso,  diverso, ou inverso ... ao nosso...
com olhares de amores  para as girls
e que são loucos por aparecer no cinema e na tv...

parceiro financeiro dos grandes trades

irmão amigo dos IN.Ts...

Eu acredito em Tudo.

Há um ditado que diz
O ouvido escuta tudo mas é mudo
a boca fala tudo mas é surda.






o destino

As abelhas trabalham desesperadamente
revirando as intimidades das flores
voam sem adeus e para sempre, 
outra primavera, outra vida, outro amores.

  

segunda-feira, 15 de abril de 2013

deixa assim

Quando o coração se cansar
e parar...
deixa ele assim: paradinho!

Na vida ele só soube bater...
aceleradamente, por amor ou dor indistintamente....
indignadamente,
tristemente,
desconsoladamente.
por mim... e por todos indiferentemente

e por mais que batesse e bateu até quase emudeceu entristecido
quebrou as cordas dos sinos da vida
não passou de um prisioneiro ínfimo e desconhecido.

Coração, nem eu te soube reconhecer,
nem ler ou escrever teus ditados,
mórbido coração, quase calado.
a vida inteira acabrunhado, bem aqui do lado.


Mas hoje tenho te mostrado,
se feio, bonito, de tudo um bocado.
outro coração igual nunca mais...meu amado.

Um poema vivo e lindo!

O Poema vivo e lindo Gianecchini.

sábado, 13 de abril de 2013

tarde:

Sim, é muito tarde.
Até os tempos idos se foram
bye bye saudade.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Duas faces de Curitiba

Curitiba de duas faces:
de dia
leve suave ave no passeio público
voa por cima dos prédios,
com asas soberbas um voo breve...
 os prédios
pontudos e envidraçados...servem de
armas mortíferas para desavisadas aves.

A cidade é um labirinto que ela conhece
no qual  ela  não pisa, ela  não desce.


A ave não tem pouso facil nesta selva.

Igualmente vive o povo. Voa baixo, ofegante,
espremido, comprimido, reprimido inibido
voa ido. no mesmo labirinto. Não tem pouso facil.
eu sinto apesar do silêncio do recinto.

Mas de noite zumbem os  zumbis
eu não sei porque nada sei de verdade,
que nem todos possam  dormir
e ter bons sonhos e acordar em boa realidade.

A quem perambule a noite toda
mergulhado nas sombras, quem assombram
os desassombrados que pela cidade noturna passem...

não sem aviso, em cada praça em cada rua
numa linguagem clara e precisa...
de noite esta cidade não é sua!
de noite esta cidade me abisma.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O pastor

Moço... o senhor é de confiança?
Sim...sim ( bem alto) Por que?
" Eu estou precisando esconder um dinheiro"...
porque desde que coloquei meu dinheiro aqui
sumiu mais da metade... olha só o extrato...

Por acaso o senhor tem filmadora aqui
para eu ver quem pegou meu dinheiro?

Ter tem... como, eu não estou ouvindo...
Bem alto: Teeeemmmm
Então porque ninguém explica como o meu dinheiro sumiu.
- eu não posso lhe explicar isto. Senhora, é bem comum
sumir dinheiro de pessoas idosas.

Quanto anos a senhora tem?
Hum... não sei, não me lembro.
Dá sua identidade... 80 anos? Verdade?

Quero que o senhor esconda meu dinheiro
e não conte para ninguém... ninguém.
Esta mocinha também é de confiança?

O senhor não manda carta lá em casa,
também não telefona, também não deixa nada aparecer
em nenhum papel...

A senhora fique tranquila nós aqui do banco vamos
esconder seu dinheiro e ninguém mais vai encontrar.
mas lhe aviso se precisar dele nestes meses nem
a senhora vai saber onde ele está. Vamos sumir com
seu dinheiro. Certo.

Não entendi como que alguém consegue pegar mais da me
tade do meu dinheiro dentro do banco
e ninguém sabe ninguém viu...

Minha senhorinha para que isto nunca mais aconteça
nós da gerencia esconderemos sua grana.

mas precisamos um número de telefone e o nome de alguém
da sua familia para entrar em contacto caso a senhora
morra, Deus me livre, mas ninguém está livre, nem mesmo
a senhora que prova que sabe viver está livre da morte,

Por favor o nome de alguém da familia...
"Não, de jeito nenhum. - Um neto, não, uma filha,
não, um primo, não, um namorado, não,
alguém que a senhora goste não...

Então sua vizinha, não, sua cabelereira, não.

" Já sei... o pastor da sua igreja
nele a senhora confia seu dinheiro?
pode me informar o nome dele e o telefone,
a veinha baqueia... nele ela confia.

inverno

já me ocorre vento de inverno
a mim e ás folhas da árvores...
no reciclar sereno e eterno
a primavera das almas.

coragem

A considerar o livre arbitrio
Deus sempre ajuda
inclusive a ser livre
ou ser cativo...

e há um medo pagão
de não se  ter patrão, de não se  tem senhor
de não  ser ter "mandão"
que alivia a dor...

de assumir erros pecados crimes
de ser próprio a boa ou má índole...
e pior de tudo
 um medo de não ter se  salvação.

há um medo de se  ter que ter coragem.



terça-feira, 9 de abril de 2013

A cana

Rindo ou chorando
se chega onde se tem que chegar
então se é garapa de cana
doce bom de saborear...

mas cuidado, não se deixe meladificar
se para ser garapa
tanto se tem que penar
imagina se tornar melado
por onde se tem que passar....

segunda-feira, 8 de abril de 2013

alma

Gosto de escrever em linha reta,
não escrevo pontilhado,
uma escritura sem teto
nem parede do lado.

Gosto de escrever
mas não empacoto o verso,
nem mando de presente,
para qualquer outro poeta.

escrevo e reescrevo um pouco poético
a minha propria alma
no seu existir concreto.

cartas

Quero colocar  as cartas na mesa...
as cartas voltam  para a manga.
então the book is on the table
o pássaro cantou. The bird sang.

Falar com os mortos

Falar com os mortos é normal.

O marido morreu.
na hora da aposentadoria.
As viagens marcadas a passagem comprada e
O coração parou...
Enquanto a ambulância o levava para o hospital
 ele disse:
Não adianta reclamar e fazer esta cara,  
nem chorar
nesta viagem inesperada
eu vou sozinho, você fica...

Ela recebeu o seguro, terminou a casa,
casou a filha caçula, Deu os carros dele de
presente... tinham muitos bens.

Depois de uns meses indo todos os dias
ao cemitério, carregando uma enorme 
mágoa decidiu por fim sentar 
e conversar.

 no túmulo dele,  ao lado de outros
túmulos  começou a falar.

"Palhaçada você fez comigo.
Prometeu que íamos juntos para a Europa
os Estados Unidos. Me prometeu até o Caribe
Israel e o Egito. 
A casa grande e vazia eu nem acredito.
Que tenho que recomeçar sempre meu dia, sozinha...
Tem vez que enrolo o cobertor e travesseiro
e você ainda dorme comigo.

Você era teimoso. Tinha que ter bebido?
Trabalhava feito condenado. Já tínhamos
muito dinheiro...mas sempre passava os
domingos nos bares e voltava para casa cozido.

Toda segunda a sexta ia trabalhar era o melhor
dos maridos... deixou-me ainda seguro
de sua vida. Benhê! volta para casa logo,
temos tudo do bom e do melhor, tudo
tudo ganhado honestamente...
Aquelas trapaças que fizemos nem conta para a gente.  

As malas da nossa viagem ainda estão pronta
mas você onde estará? Lembro-me de tantas
vezes que você bebeu tanto que perdia nosso lugar.


Do outro lado muitíssimo do outro lado estava
ele. No sol de cozinhar batatas. Sentado em cima
de uma enorme mala que nem conseguia carregar.
vestido de pele de trapo.
Aquilo era o deserto. O deserto estava por lá.
Não havia um único bar no lugar.
Mas se sentia embriagado. 

Pensou consigo mesmo... Devo ter bebido demais
e não sei onde fui parar. Procurou nos bolsos dinheiro
documento qualquer coisa.
nada e sua mala estava chaveada.
E chave ele não sabia onde estava.
Sua roupa estava meio rasgada... trapeada.
sua aparencia nem imaginava.

Por uns instante desconsolado revirando  os bolsos encontrou
um papel embolorado... do lado,tinha
um celular jogado, pegou o mesmo digitou o número...

Alguém falou: Nossa mano, estou esperando
teu chamado  e nada... onde tem andado?
-Estou aqui num lugar, numa estrada, com
uma mala enorme que não aguento carregar,
você podia vir me buscar...penso que bebi
demais e me perdi.

Sim é claro como é o lugar onde você está?

Ele enrolou um pouco a fala, descreveu mais
ou menos o que via...
- Já vou te pegar...  mas vai demorar.
Você me parece bem bêbado
procure alguma coisa para comer até eu chegar.          

Enquanto isto a mulher continuava a falar:
Ele estava vendo aquela senhora bem velha
bem gorda, já vamos dizer bem passada
e triste e falava e chorava e falava,
sentada naquele bloco de concreto cheio
de flores... nada lhe ocorreu sobre ela
nem a paisagem, nem a história.

e aos poucos foi se distraíndo da cena da velha
e apareceu uma moça bem ali na beira da 
estrada, tinha um sorriso lindo
uma pele envolvente, uns cabelos leves
um olhar eterno... gestos quentes.         

E foi abraçando ele cada vez mais ternamente
beijou e beijou de repente ela lhe jogou um bebe,
outro bebê, outro e outro bebê...

Ele se viu cheio de crianças querendo doce
e carinho e cama e passeio...
e ela azeda feito limão, dava de dedo
de mão, de vassoura, de tijela, de fogão e feijão
o dia inteiro...

Lembrou da sua familia, mulher e filhos,
trabalho e luta... lembrou da morte.
Morreu. Não lhe restava mais dúvida.

E aquela velha chorona sensata no túmulo
devia ser sua avó...

 Mas considerando o tempo ido
sua avó já devia ter morrido...

Então o desejo que leva aos beijos
que leva a saudade o levou a ela... a velha.

Ela ainda falava e chorava
absolutamente certa em sua razão 
que ele a ouvia, absolutamente certa em sua razão
que ele não aparecia, não ali.

Mas ainda com as flores amarelas abraçadas
ao peito ela sentiu um vulto, um vento
e logo em seguido ele apareceu sentado
no túmulo na parte mais alta do mesmo.

Ela deu pulo para tras e quis gritar
não saiu palavras... nem nenhum
movimento mais... nem um fio de seu cabelo
se mecheu... mesmo havendo vento.
Ela via as folhas das plantas se mechendo
Mas ela não mechia... parece que até seu coração
ficou em silêncio.

Seu bemhê estava bem feio. Tinha perdido muito
de suas carnes e até de ossos.
- Desculpe assustar você...mas é
isto que acontece quando a gente morre.
Você tem me aparecido muitas vêzes,
pensei em voltar mas para dizer a verdade
só consegui isto. Minhas roupas estão rasgadas,
mas ainda não fui para lugar nenhum...
Estou esperando meu irmão.
já já ele chega e então talvez não volte mais
mesmo morto ainda me sinto um pouco embriagado
por isso me desculpe, não lhe trouxe flores,
nem as vi do outro lado. 

Não quero que fique chorando
nem remuendo suas mágoas...
Vá viajando quando chegar sua hora você
vem... ou você vai..

há tantas outras pessoas com quem
você ainda pode conversar...

  eu nunca fui romântico...
mas você foi minha razão de existir...

Perdoe minha frieza, se não pretendo
lhe abraçar... meu irmão acabou de 
chegar vou indo... está buzindo sem parar...

Ela começou a escutar a buzina de um carro la
forá enquanto ele ainda estava calmamente 
sentado no túmulo... o carro buzinou e buzinou
até que ele sumiu e o carro arrancou.

fácil falar com os mortos, ouvi-los, no entanto é um caos. 
Ela saiu bem devagar...
nem tudo é como parece ser...

todos tem seus próprios caminhos... mas o mesmo jeito de caminhar.


 

            

                  
         

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