quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Doutor Fedor Ivanovich - conto parte II


Fedor caminhava pela estrada do lago.
Pitricha era mais pitricha ainda, pela doença.
Enroscada no pescoço do marido
ela debruçava os olhos sobre os girassois
e silenciosamente se despedia da paisagem
que era o seu mundo.

Fedor sentou à beira do lado,
com ela nos braços,
molhou os pés, e rindo disse:
vamos entrar...
Ele estava calmo ela transparente e dolorida.

Entraram no lago, Pitricha nos braços dele.
Ele a soltou bem devagar na água,
já fizeram isto muitas outras vezes.
Ela não tinha medo.
Brincaram um pouco. A mente dele e dela
estava alucinada.

Poderia a morte ser uma brincadeira entre pessoas
que se amavam tanto...bom,
ele continua a ver a luz tremulante dos olhos dela.
e inesperadamente
decidiu afogá-la.

Enfiou a mão na cabeça dela
e a forçou para dentro da água.
Águas cristalinas e transparentes
ela não reagiu...
Fedor a via beber tanta água
como se fosse um peixe morto de sede...

Nestes longos segundos
o lago se revoltou e lançou sobre o pequeno
e débil corpo de Pitricha uma força sobre natural

Braços e pernas se agitaram velozmente
e as águas rodopiavam pelo ar
e ele lutava cada vez mais para afogá-la
e ela se debatia assustadoramente.

Depois da luta vã ele tomou Pitricha
de volta ao peito. Não tava morta. Mas quase.
Quase morri, disse ela... Eu sei querida,
falou ele. Você bebeu muita água...
Você se assustou... fique calma.
Estava só lavando os seus cabelos.
Tive dificuldade para salvá-la.

Ela estava cansada. Ele muito mais calado
que antes a tirou da água.
Ela se grudou no pescoço
como se ele fosse sua própria vida.

Fizeram o caminho de volta à casa.
Quando ela passou pelos girassóis
observou que eles haviam mudado de lado.
Olhavam para casa.
Um girassol à direita, outra à esquerda...
assistiam tudo, nada mais.

No próximo dia ela não chorou, não gritou.
Não queria compartilhar sua dor.
E fedor queria esquecer o lago.

A dor volta sempre, seus domínios são amplos
e ilimitados. Se ela voltou a sofrer ele voltou
a enlouquecer.

Fez tudo novamente, catou Pitricha nos braços
levou-a para o lago e tentou afogá-la.
Tudo igual não conseguiu, voltou com ela nos
braços para casa.
a mesma lâmina fria pelo rosto.

A natureza testemunha mas não interfere.
O lago confabula com a vida e cada vez se revolta mais.
Pitricha bebia sempre muita água,
parece que bebia o próprio lago.

Dentro deste irreal ritual ela foi fazendo
silêncio de sua dor
sua jaula era sagrada e tinha um patamar
muito elevado entre os Deuses e os seres humanos
ou quaisquer outros seres.

Ninguém precisa ser humilde ou arrogante para sofrer...
Isto não interessa nada para a dor. Seu império e pavoroso.

Fedor tinha pois uma sagrada anti missão:
Aliviar o sofrimento de sua amada,
presente tão valioso que a vida lhe dera
mas queria de volta.

Assim quando sua amada começou a chorar
ele saiu de perto. Foi para o campo.
Ela estava tão pequena que tantas vezes desaparecia
no meio dos panos sobre a cama.

Ele, Fedor sabia que no lago não conseguiria afogá-la,
buscar nos campos um potente veneno
capaz de aliviar o sofrimento dela era sua intenção.

Não encontrou nada para confiar tal missão
voltou para casa com os mais deliciosos frutos da estação.

Será cruel demais ajudar alguém que tanto se ama, a morrer...
Ele jamais pensou sobre isto,

Entrou no quarto e olhou o monte de panos,
confuso, não viu Pitricha.
Não estava na cama e nem no quarto:
onde estaria...

Disparou o coração de Fedor:
Ela foi para o lago morrer sozinha.
Ele correu para a estrada e viu os giras sóis
olhando para o lago...
Pitricha estaria lá.


sem surpresa ela realmente estava lá,
dentro da água.
Querido, não consegui, bebi mais um balde de água e
não lavei meus cabelos.

O sentimento dos dois era transparente, sempre
e muito mais naquela lago.
Ele entrou na água a pegou no colo, a levou para casa.

Comeram os frutos, trocaram carinhos, fizeram juras.
Ele perdoou sua pequena e cruel traição:
Querida, deixa eu ajudar você lavar os cabelos.
Sorriram, eram cúmplices...
a luz dos olhos dela pareceu mais brilhante e mais firme.

No dia seguinte, ela começar a andar
pela casa e se importar com a desordem
e com tudo que acontecia lá fora.

No outro dia pediu para ir ao logo
caminhando ao lado dele.
Se não conseguisse iria no colo
agarradinha ao seu pescoço.

Dentro do lago, havia sempre
muitos momentos de felicidades,
ela esquecia suas dores e ele também.

Ele repetiu o mesmo gesto:
enfiou a cabeça dela dentro da água.
Ela bebia água como peixe, morto de sede.

Fedor gritou um trovão:
Pitricha você está se curando e são as águas
do lago que estão lhe salvando...

Estas mesmas águas que você bebe
até se afogar...quase.
Assim imerso nas alegrias da vida
eles beberam muitas águas
por todos os poros do corpo e alma.

e repetidamente no lago
ela se fortalecia e se embelezava cada vez mais.

Tão mágico o momento
eles se fizeram mais lindos e fortes,
fizeram filhos e ambos venceram suas dores.

Ele não pensava ser médico. Não poderia pensar nisto.
O lago era seu santuário
Uma verdadeira e profunda igreja
construída num buraco de terra,
pelas mãos de um homem inocente e mulher
onde com certeza,morava Deus.
As forças naturais os ajudavam, é claro.

As dores, as inexplicáveis dores, crônicas e agudas
e tantas outras doenças se desenvolvem por falta
de água no organismo.

Esta seria a síntese de um médico menino
que fundamentou uma brilhante e caridosa carreira médica.
Um curador nato.
Sem um único truque de mágica.
Ele era o próprio mágico.

Reis e mendigos seriam capaz de implorar por
suas águas milagrosas.

Doutor Fedor mergulhava seus pacientes
em tinas, lagos, rios,
os amarravam se necessário fosse,
qualquer coisa que os fizessem beber água...

Os pacientes, na maioria absoluta das vezes
deixavam suas dores nas águas.

Ele não escondia nada:
Bebam água, muita água,
sirvam água, muita água.

Mas o lago dele ainda é sagrado até hoje.
Dizem que o lago é um laboratório
plantas e tudo mais até as pedras
que o circunda são curadores.
Os pássaros são feiticeiros.

Que ele Fedor nunca foi médico
nunca aprendeu com ninguém
mas ensinou médicos e pessoas
e se curarem também.

E dizem até que em cada lugar que
passou jogou umas gotinhas do tal
lago sagrado e assim ainda hoje
podemos ter seus conhecimentos ao alcance
da mão.

Homenagem de Fedor Ivanovich e Maria Melo às nossas águas....

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