sábado, 26 de junho de 2010

Vaga no céu - Maria Melo

Tinha uma vaga no céu
pra cargo de Santo.
Faz tempo que todos por  lá espera alguém.
Ninguém nos últimos tempos, entretanto.

Pedrão estava desempregado,
endividado, jurado de morte,
com o aluguel atrasado,
e sua mulher um porre!

Decidiu trabalhar no céu.
Condição: não precisa graduação
nem pós, nem doutorado.
nem mesmo saber o alfabetário.

Não precisa dirigir nada,
nem identidade, cpf, ou o nome limpo no serasa,
não carece endereço, referência,
teste de Q.I  e conta bancário,
Observação importante:
Não precisa entender do assunto.
Precisa de algo:
ter o nome limpo no Spcp
(serviço de proteção contra os pecadores)

O interessado no cargo não pode estar em pecado.
Pedrão sentou-se na sua cadeira dura
e começou a matutar:
Estarei em pecando... serei pecador...!!!
Contou todas as suas ações daquele dia.
Nada parecia ser pecado,
seus atos eram cômicos, eram tristes,
angustiantes... mas pecado mesmo...
passavam longe, tanto melhor,
pensou ele... nunca faço nada de novo,
minha vida é uma eterna repetição.
Por isso bastava simplesmente, rever
durante a noite os atos daquele dia.
Isto fez com soberba alegria
e concluiu que estava pronto.
então se apresentaria , na manhã seguinte  
ao senhor e reinvindicaria o cargo de santo.

Isto tudo parece muito complexo,
mas para o inocente Pedrão era muito facil.

Na portaria nem precisou se identificar,
Logo aquele que nem santo  era,
já lhe indicou o lugar...
onde o chefe o aguardava sorrindo,
(chefe sorrindo, suspeito)
mas Pedrão ria mais, ainda.

A vaga é sua, disse o Chefe.
Nem há concorrente. Se precisar de algo pegue o  que puder,
tudo por aqui é seu.
"Ah se fosse assim, lá embaixo!" Ele nem pensou isto.
Eu que pensei.

Louco de feliz foi logo procurar o que fazer...
Para entender o que um santo deve fazer...
Pedrão recebeu um livro.

O livro era muito pequeno e quase sumiu no bolso
de Pedrão. Só tinha a capa.
Cadê as páginas.... E em portugues, claro,
tinha só 3 letras... BEM

Ele nunca foi burro mas era muito incompetente
para viver socialmente.
Entendeu perfeitamente o que leio.

Aí ficou claro, era dia ensolarado.
Sem nuvens... Pedrão tnha um excelente cargo.
Viajou de estrela a estrela
na maior solidão, não encontrou nada errado.
Voltava todos os infinitos dias para sua
 moradia sem ter feito nada.
Nenhum bem a ninguém...
Saia todos os santos dias,
e nada pra fazer no céu.

Depois de muitas eternidades divinas
vividas pelos espaços celestes,
viajando pelas estrelas e luas, Pedrão ficou entediado.
Ficou injuriado

Por que não tem ninguém aqui...
Filosofou Pedrão angustiado:
Se tiver outro homem, dá guerra,
Se tiver uma mulher, dá pecado.
Não queres viver em paz...

Enquanto filosofava, seu fogão...
Não o fogão do inferno que consome as almas dos pecadores...

Mas o velho fogão de lenha,
onde a velha patroa patrulhava a cozinha
noite e dia esquentava o seu feijão...

resmungava a desgramada
que aliás não tinha gramas a mais
e sim dezenas de quilos... que importava,
que seu velho fogão,
sentava não de verdade, a sua frente,
só na sua imaginação que  doia
fortemente no seu coração,
que aliás também nem coração de verdade, era,
já tinha se desfeito pela terra,
por tantas passadas primaveras.

Morri! Será isto mesmo, morri
e nem percebi...!

Quem está vivo tantas vezes quer morrer,
mas não morre... quem está morto,
quem se lembra o que ocorre!

Pedrão pensou no livro.
No que fazer, na solidão, no céu, na terra,
no Fogão... na velha! Pensou feito louco,
no seu corpo e o procurou desesperamente.

Não encontrou em lugar algum,
nem mesmo na raiz mais profunda,
da árvore mais gigante do mundo.

Eu quero viver de novo, dizia de si para si mesmo,
a estas alturas que Pedrão andava, nem Deus!
Quero ser o que sou, nem que seja um Pedrão.

E pronto lá estava ele, plantado na calçada, um Pedrão.
Veio a mulher que levantou mais cedo,
querendo tecer novamente a manta de Ulisses
lembrando os pontos e comprando a preço
de ouro a lã, a mulher resolvida,
deu de cara com Pedrão!

Que Pedrão é esse bem no meio do meu caminho,
de onde terá vindo, não veio sozinha...

tentou vira-la, abraçá-la, quebra-la
roubá-la, levá-la, escondê-la!
E até fez previsões sobre sua aparição!

Mas Pedrão não se moveu...
Dali de onde estava podia ver o que passava,
o que falava, o que pensava o que queria,
sua velha e antiga cozinheira.


Que tão logo não pode com o Pedrão,
chutou-o até machucar o pé...
mancou e melhor, o chutou de novo,
depois de um tempo,
arrumou  uns amigos e levou Pedrão pra casa,


Há de haver algo bonito
que eu possa fazer com Pedrão!

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