sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O cientista Máscara, parte III - conto - Maria Melo - Brasil Paraná

Então você já sabe alguma coisa sobre a máscara
Ou o cientista  que a criou... lembra também que ele transformou
o peixe num homem.

Agora vou contar sobre o primeiro passeio do peixe.

Era segunda feira, para os homens, não para os peixes,
dia de muito trabalho, correria, compromissos
dinheiro, loucura,  ninguém pode perder um só minuto
do tempo, especialmente porque se paga muito
caro, já que o tempo  está todo vendido.

O dono, o comprador do tempo vende dor.
Tudo lhe pertece, qualquer segundo,
E ai, daquele que se distrai...ou foge da realidade,
fica vagando a esmo... sem caridade.

O homem peixe vai passear na segunda
seu corpo inteiro sente o fardo do sol quente,
suas escamas secretas se arrepiam
só de imaginar o inferno intrasitável de tanta gente.

Parece a maior desorganização,
mas tudo está devidamente catalogado
registrado, selado e enviado...
São os pacotes de presente
que cada qual  tem do seu lado
e nada mais, nem uma vírgula de sonho.

Ele fala pouco, sente muito, e
e não pensa.

Alguém diz: Hoje você vai ao rio... Um rio Urbano,
totalmente  desvenciliado de seus planos,
e entregue ao destino humano.

Um rio de nobreza, sobre a terra,
cujas vidas nascem só por nascer,
no desafio do ser... ser, por ser,
uma lama vencida, pronta pra ser destruida.


O que quer dizer tais palavras para um peixe...
O que dirá um alfabeto e todas suas regras e leis de composição
de textos... inclusive de grandes mentalidades...
diante do pasmo, do peixe...

É um honrado, meritoso, código, altamente
elaborado para ser cumprido,
para o peixe, pode ser simplesmente jogado
na água, sem ser consumido, sumido,
sem nenhuma mágoa.

Chegou o rio, o peixe não sentiu seu cheiro na sua
pele secretamente escamosa e ávida de desejo
de água doce sobre si mesmo.

Seus olhos olharam, mergulharam assombrados
naquilo que chamaram de rio, composto
de gotinhas de águas...hidrogênio! Oxigênio
e todo um mascerado de elementos, bem dosados
sabiamente equilibrados por leis, alheias
que não chove onde manda os magistrados
ou quaisquer outros tipos de ilustrados e lustrados.

Fechou os olhos  para compreender... sempre
viu o rio de dentro para fora,
é a primeira vez que olha o rio com tais olhos
tão sutis e tão sinceros, de fora para dentro,
que seu coração se confunde:
Será esta a verdade, que contesto...


Todas suas escamas se arrepiaram e desta vez
era sério... Água assim, nem no inferno.
Se fosse água seu  corpo sincero,
se jogaria aos berros de alegria,
e nela viveria e morreria, sem jamais perder
um só instante de  toda sua eternidade
da clara e profunda vida de um dia.

O peixe adoeceu só de sentir naqueles
segundos, a  água imunda  em si...
Queria mesmo morrer... mas não sabia como,
afinal ele era um peixe homem...

Diante de tal  fato, estava comprovado:
Não tinha ciência, religião, história, política  ou arte
que explicasse aquele peixe
aquele misteriosa parte,

Aquele rio sobre a terra, aquelas vidas
mudas e mortas, que sinceramente, a alma deserta.

continua lendo... conto tudo mais, outra hora.

,,

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