domingo, 7 de agosto de 2011

Monólogo do porquinho


Na beira do rio, na chuva
o porquinho saiu da casinha
ao ouvir o zumzum do povo.

Liguei a filmadora e fiz uma rápida imagem.
depois me distrai com a conversa das pessoas
com o rio  revolto e sua   paisagem.

Fui sozinha para uma sala,
meu casaco molhado pendurei na cadeira,
e a mochila na mesinha ao lado...

O porquinho chegou
sem cerimonia   na sala entrou:
hon hon hon.... hon hon  hon hon confabulou seu monólogo.
fucinhou de leve meu casaco molhado
enquanto eu vestia o outro,
cheirou a máquina filmadora,
olhou-me  e me ameaçou:
chegar mais perto,

- Ora porquinho gordo, te cuida comigo,
senti teu cheiro  com muito tempero no restaurante da praça...

posso lhe parecer amigo mas amigo de verdade, porquinho
aqui  não acha!

hon hon hon hon hon hon hon murmurou
meio sem graça e se afastou
se enfiou na casa e não voltou.

depois fui ler o bilhete que ele me deixou:

Sou seu porquinho gordo,
sem engodo meu cheiro com tempero lhe seduz...
deixo seus filhos mais saudáveis e felizes
mas é dificil carragar a cruz
sem promessa de cristandade
nem da caridade, da claridade
de uma tênue luz

nós porquinhos somos pagãos,
não temos um tostão para gozar a vida...material
pois não temos ensinamento espiritual...
Ah... me esqueci.... falo pelos outros
que são mais mudos que eu, também são surdos...
e só pertecem ao reino animal

cabritos, carneiros, bois, coelhos,
peixes, perus, patos, terneiros,
e outros comestíveis  companheiros,
que não tem o céu para alcançar.

nem a esperança da prece para
a dor amenizar e não fazemos o mal
somos considerados e deveras inocentes...
pense: Que foi que fizemos
de mal para  toda esta gente...

servimo-nos de sagrado alimento,
já que seu sustento tem que ter proteina viva...
cheia de sangue se não amarelam
e ficam inertes, fracos e exangues...
morrem e se decompõem todos
no mesmo lodo no mesmo mangue

queremos: É nosso alvo:

que  este filho pródigo da natureza,
que arrastou as pedras edificou montanhas,
se salve desta eterna peleja
que sua vida efêmera  arrebanha.

Damos o bom torresmo,
toucinho e gorda  banha.

Aproveito a sublime ocasião,
da visita da nobreza da terra,
para pedir  neste momento de trégua
desta eterna guerra

uma fantasia que temos
como deve ser bom morrer sem dor,
sem agonia...
pedimos aos doutores...
uma divina dose da anestesia.

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